Onde estão as danças da unidade
que eu conhecia antes de nascer?
Será que abri mão da minha totalidade,
para poder caminhar pela Terra?
Será que escolhi o esquecimento
para tornar a vida mais real?
Será que habitei um corpo humano
para que pudesse aprender a sentir?
Estou aqui para dançar este sonho
em minha sagrada forma humana.
Para celebrar minha singularidade
e não pedir a ninguém que me siga.
Dançando as lições da vida,
aprenderei a me movimentar com graça,
enquanto sonho que me recordo
do potencial da raça humana.
(Jamie Sams, Dançando o Sonho, pág. 5 – 2003)
Trazendo esse lindo e profundo texto para o Yoga, cruzando duas linhas de pensamento, a xamã e a védica, podemos perceber como o encontro e a união entre diferentes culturas, podem ter uma enorme interação entre si, e podem se relacionar a ponto que advenham reflexões novas e interessantes, trazendo para a nossa compreensão a unicidade do universo.
Desde os primórdios dessa nossa civilização, há uma real busca do verdadeiro motivo de estarmos aqui. Neste momento da humanidade, o mergulho interior nos traz muitas respostas, só que para isso, é necessário a limpeza, a purificação e a conexão internas, para que dessa forma, possamos acessar nosso “EU” mais profundo.
Paramahansa Yogananda, em “Autobiografia de um Iogue”, nos revela que quando aprendemos a acessar o nosso “EU” interior, aprendemos também a acessar a biblioteca universal, onde podemos encontrar todas as respostas, que muitas vezes procuramos fora de nós, mas que na verdade, seus entendimentos, sempre estiveram em nosso interior.
Algumas linhas de estudo, acreditam que o xamanismo é o primeiro contato do homem com o mundo espiritual, e a ampla distribuição dessa cultura por nosso planeta, nos sugere que, de alguma forma, o xamã representa essa verdadeira essência humana. É quando o aprendiz se torna o mestre de si mesmo.
Segundo a etimologia, a palavra xamã é de origem siberiana, sendo que a parte nordeste da Ásia, é o centro primordial por onde essa cultura disseminou-se, mais tarde, pelas Américas e pela Eurásia, chegando ao Tibete, à Europa e às primeiras civilizações do sudeste da Ásia.
O xamã é considerado o mediador da relação entre o mundo natural e o sobrenatural, que usa instrumentos como: defumadores, chás, e transes, para entrar em contato com DEUS e sua verdadeira essência. Trazendo o meu ponto de vista, o Yoga trouxe para a humanidade essa possibilidade de mergulho interior, usando o nosso próprio corpo, como esse instrumento mediador, sem outorgar essa conexão a outra pessoa.
É claro que no Yoga tivemos e sempre teremos o contato com mestres e gurus, mas quando aprendemos a fazer essa reconexão interna, podemos ter a permissão de entrar em contato com a sabedoria universal. O nosso mestre interior, enfim, se revela a nós.
No decorrer da História da humanidade, recebemos de presente um grande salto quântico, para que pudéssemos, de certa forma, criar o nosso próprio caminho de evolução. Podemos hoje, usufruir dessa ferramenta transcendental, que é a trilha do Yoga, nos reconectando à nossa ancestralidade, honrando nossos antepassados, que nos deixaram todas as pistas para que retornássemos à nossa potente morada da alma, nos reconduzindo ao nosso “EU” + “D-EU-S”
Platão (427 a.C – 347 a.C), grande filósofo grego, já falava em seus textos, que uma vida virtuosa só pode ser conquistada estabelecendo-se como prioridade a integridade pessoal, que não é outra coisa senão tornar-se virtuoso. Essa virtude somente será atingida, quando cada ser compreender que toda ação deve estar em conformidade com o dever que cada um impõe a si mesmo, e que exige um permanente compromisso de buscar o conhecimento, mais do que as leis ou as autoridades do Estado.
O ser deve buscar a sua unidade na multiplicidade das suas camadas internas. Somos seres complexos, e para tanto, é necessário se utilizar das mais variadas técnicas e ferramentas, que possam nos ajudar a adentrar nesse mundo interior, desconhecido e escuro.
Mas, como nós, das tradições ocidentais, podemos nos livrar de tantos condicionamentos que nos foram impostos, desde o nosso nascimento? Essa desconexão da vida moderna, nos levou para longe de nós mesmos, nos impedindo de nos religar; o imediatismo cedeu espaço para a insatisfação do ego, do consumo desenfreado e das doenças de todas as ordens. Não nos ensinaram a sermos únicos e a viver a nossa singularidade.
E, partindo deste ponto, de tantos questionamentos e insatisfações da vida contemporânea, dei início a minha jornada no Yoga, que desde 2003, vem trabalhando tantas questões dentro e fora de mim, me levando a lugares conhecidos e desconhecidos, mas me relembrando, de maneira sutil e intensa, a dualidade dessa vida “moderna”.
O caminho desta autoperfeição, através da prática constante dos princípios do Yoga, através dos Yamas e Niyamas, me trouxeram um caminho do meio, sendo singular para minha jornada aqui, juntando e unindo muitos elementos, que estavam soltos ou perdidos em minha vida.
No livro “Autoperfeição com Hatha Yoga,” Hermógenes nos faz refletir sobre o poder de se curar, erguer, apaziguar, purificar e libertar, na prática constante do Yoga, em que a disciplina, o relaxamento, a respiração e a meditação, se tornam os nossos aliados nesse caminho da plenitude e bem-estar. Ele é um exemplo de como o trabalho do Hatha Yoga, pode transformar por completo a vida de uma pessoa sedentária, acima do peso e com tantos desequilíbrios e dores.
Voltando para o início da minha jornada no Yoga, a dualidade presente em mim, sempre me direcionou para uma vida contraditória e longe do meu verdadeiro “EU” e quando encontrei o Yoga, ou ele me encontrou, foi como se eu tivesse, de novo em minhas mãos, o mapa do meu caminho para casa e para mim mesma. Me reconheci nesse trabalho de liberação e de libertação de tudo o que me impedia de ser eu mesma, trazendo para minha vida o “SATYA”, para que eu não me desviasse mais da minha verdade, que não é absoluta, mas que está mais perto de mim, do que a “verdade” do mundo caótico lá fora.
Sempre me questionei sobre o direcionamento em que a civilização, em geral, estava caminhando, pois sempre me senti na direção contrária, sem entender o porquê, e sem me encaixar na “caixinha” imposta pelo mundo exterior, o famoso sistema MATRIX. Eu não conseguia conectar esses pontos de interseção e nem trabalhar essa dualidade, presentes em minha vida cotidiana.
De certa forma, foi isso que o Yoga trouxe para o meu caminhar, me ajudando a colocar o conhecimento adquirido em prática. Mas não foi e não está sendo um caminho fácil, pois as ilusões da vida mundana, sempre me levam para fora de mim. Foram muitas idas e vindas dessa jornada de autoconhecimento, mas o chamado dessa filosofia, ficou sempre fresca em minha mente e meu coração.
Era como se um cordão energético estivesse constantemente me puxando e me levando para esse mergulho interno, e a busca incessante por respostas; que não estavam em livros, terapias, escolas e nem mídias, ou pelo menos, não na grande parte delas, que não me traziam a compreensão holística do que realmente estava acontecendo comigo; me fizeram entender que o que eu procurava só podia estar em algum lugar dentro de mim.
E foi assim que meu mergulho na medicina do autoconhecimento começou…