Eu fiquei mais de 10 anos sem a prática regular do Yoga, mas sempre, de alguma forma, estive em contato com a sua filosofia de vida, e hoje percebo isso com muita clareza, pois na verdade o Yoga sempre esteve em minha alma, me chamando e contribuindo para que a minha vida fosse mais conectada ao meu EU.
Atualmente, depois de retornar à prática regular, posso dizer o quanto esse caminho me faz bem e como eu precisei estar longe dele, para vislumbrar o seu profundo valor, não só para mim, mas para todos os seres humanos, que estão em constante evolução, pois ele oferece ferramentas que nos ajudam a trabalhar o nosso ser multidimensional.
Em todo esse tempo longe do Yoga, eu fiquei buscando um instrutor que me trouxesse mais do que a prática de asanas, e como eu percebo isso agora, eu não conseguia ficar somente no exercício físico e no trabalho das posturas. Eu precisava de mais, muito mais do que o Yoga pudesse me oferecer.
Pratiquei com vários professores, várias linhas, mas o Hatha Yoga sempre me chamou muito a atenção. Era a prática que melhor se adequava às minhas necessidades e pude ir comprovando isso, cada vez mais, no aprofundamento que fiz durante o meu curso de formação, em que eu escolhi muito bem o meu caminho dentro do Yoga.
Hoje, percebo como ele está presente na minha vida, ele não está mais somente no tapetinho. Ele já está amalgamado à minha alma. Eu vivo o YOGA, sem fazer muito esforço e sem ter que me sacrificar ou me violentar para o estar o praticando em toda a sua integralidade.
Entendi a biotensegridade, o trabalho do yogaterapeuta e compreendi a fáscia e agora enxergo o ser de uma forma nunca antes experimentada. Vejo o todo, as diversas camadas, os vários “EUS”. É como se eu tivesse ligado muitos pontos de informação, me aprofundando em meu “EU” e na minha autocura.
Meu EU, se encontra em plena transformação e está pleno, no presente. Hoje sei o que é um corpo de dor e um corpo feliz. EU SOU! EU SOU! EU SOU! EU SOU a saúde manifestada em mim, agora e para todo o sempre!
Não há mais um grande desprendimento de energia no meu corpo, pelo contrário, ele é fonte de prana, de energia vital, de nutrição para minha alma, que tem sede de autoconhecimento. Porque quando a gente mergulha em nossas profundezas, percebemos que não é tão complicado assim, é trabalhoso, mas vale a pena, pois nos reconectamos ao nosso verdadeiro “EU”, e a partir desse ponto, podemos realmente viver o nosso propósito de vida aqui.
Eu me encontrei dentro do YOGA e da YOGATERAPIA e percebi, claramente, que não há um caminho fora de nós, essa é a grande ilusão da humanidade. De certa forma, o caminho interior é solitário, mas é a única jornada que nos leva para a realidade do nosso verdadeiro papel aqui, e o nosso corpo pode se transformar no nosso maior instrumento de cura.
Asana, em outras palavras, as posturas do yoga, devem ser firmes e confortáveis. Patânjali indica o que caracteriza uma postura de yoga: Ela deve permitir ao praticante permanecer firme, isso é, imóvel, e deve ser confortável, isso é, permitir que ele relaxe.
Muitas escolas de Yoga contemporâneas, não dão essa ênfase no relaxamento, conforto e fixidez. Isso perdeu-se quando houve a combinação com a aeróbica e com a dança e a ênfase deslocou-se para a realização de posturas cada vez mais difíceis. Quando separadas do seu propósito, as posturas de yoga servem somente aos valores da cultura atual de boa aparência, competição e individualismo. Não estou generalizando aqui, mas pude observar esse ponto nas minhas estradas da vida.
Quando um asana é executado de forma consciente e correta, ele não será só firme e confortável, mas também, toda a tensão – prayatna – tanto física quanto mental, vai diminuindo, e no estágio final, o corpo é sentido como pura sensação e pura vibração. A partir de então, o praticante vai tornando-se mais invulnerável a dualidades.
Em outras palavras, a prática constante do Yoga, quando é firme e confortável, nos induz a um estado de relaxamento e de absorção cognitiva; a consciência retrai-se do mundo externo, com todas as suas dualidades. Vamos ficando alheios ao fato de estar frio ou calor, de estar a dor presente ou ausente do corpo, como cita Patânjali, nos Yoga Sutras.
Ele cita também que, cria-se a possibilidade de agradável dormência ou que pode acontecer um asana espontâneo, como também, uma sensação de se mergulhar em camadas mais profundas do “EU”.
Muitos gurus e mestres, como Yogananda, Sri Aurobindo, Hermógenes, entre outros, encontraram seus caminhos de volta para casa e os transcreveram em textos e decodificaram ensinamentos, para perpetuar essa jornada rumo ao nosso “EU”.
O meu caminho de volta para casa ainda está em andamento. Não cheguei completamente em mim. A vida corrida moderna, com tantos afazeres, muitas vezes me distancia do meu “EU” e do meu propósito aqui. São tantas distrações e ilusões, que geram um conflito interno muito intenso.
Temos, diante de nossos olhos, o eterno paradoxo de estarmos vivendo ou sobrevivendo a um sistema que, cada vez mais, nos mostra o caminho errado que a humanidade tomou, por milhares de anos. Não era para a gente estar mais feliz e saudável?
Refletindo muito sobre isso, vejo o quanto é desafiador esse caminho solitário para casa e agradeço a oportunidade de estar no caminho do Yoga e da Yogaterapia, que me traz o verdadeiro centramento, para que eu não tenha mais uma vida totalmente desconectada da minha presença divina.
Confesso aqui que muitas vezes me perco na vida cotidiana, na rotina escravizante de responsabilidades da casa, de ser mãe, de ser esposa e de ser mulher. Me enrolo em tantos fios de conduta que devo seguir, mas como é bom ter contato novamente comigo, mesmo que ainda sejam lampejos de lucidez interior.
Sei que o caminho é longo, principalmente por eu escolher compartilhar esses ensinamentos com outras pessoas, como instrutora de hatha yoga e yogaterapeuta. Paralelamente a isso, estarei sempre nos passos do Yoga, e isso já me deixa muito feliz, por poder estar sempre lembrando desse caminho de volta para mim, seja ensinando, lendo, meditando, estudando, escrevendo, ou compartilhando sobre essa jornada da minha alma.